sábado, 19 de julho de 2014

RIO PARNAÍBA - 4 poemas de Francisco Carlos Machado



             Reconhecimento ao Rio Parnaíba
             Rio Parnaíba, grande rio.
              Fostes um benfeitor de minha terra,
              de muitas terras no passado.
              Com teu caráter persistente
              não desejou tréguas pra o nordestino
              habitante de teus leitos,
              sofresse por falta d’água,
              deixando de viajar ou de produzir
              economia em sua terra.

              Rio Parnaíba, grande rio.
              És perene benfeitor de minha terra.
              Com o caráter incansável que tens,
              trabalhas ainda para minha terra
              receber eletricidade e de tuas belas águas   
              lazer e sustentos para se manter.

              Muito obrigado, meu bom rio.
              Tu és verdadeiro manancial.
              As muitas vidas encontram em ti
              alimentos para existir.



 


                 Rio Parnaíba


          À margem esquerda do rio Parnaíba,


                onde vivo e desfruto de suas belezas,

                tiro as vestes, e nu, todo despido,
                atiro-me as suas límpidas águas de verão.
                E sentindo-me um peixe ao nadar,
                mergulhar em seus leitos,
                entrego-me completamente a natureza.

                Revolvendo-me nas suas areias brancas,
                sentindo-as rispidamente em minha pele,
                com a brisa amiga que me revela
                o quanto à vida é gostosa e bela,
                atiro-me novamente nas suas águas,
                mergulho fundo, nado, me lavo,
                voltando satisfeito para casa. 


A Prostituição do Parnaíba

 O rio passou a ser navegável.         
Em seu dorso infantil e furor ávido
de progressos, o gaiola Uruçuí,
em corrida espermatozóica,
sangra bruscamente suas águas virgens.
                
Fecundando-o no Atlântico
senti o clímax dos gozos
das riquezas do século XIX
gerando povoados, vilas e cidades.
Cada transportar de coisas, bichos e bens,
gentes brancas e pretas eram socos de coito
que tornaram o rio meretriz,
conhecido na praça do mercado.
Viciando o Piauí e seu vizinho Maranhão,
vivendo ambos dualismo sexual pornográfico
usufruindo o gozo líquido do Parnaíba,

Anos de cópulas. Posições e gozos variados.
Ao tornar velhas as águas prostituídas do rio,
no encontrar de fontes novas de prazeres e riquezas,
abandonaram-no ao assoreamento, corpos estranhos,
poluição e depilação dolosa de suas margens -
As doenças venéreas do rio.


As Canoas do Parnaíba

Pescadores do Parnaíba, madrugada inteira,
com canoas e redes, em corridas silenciosas,
labutam, pescam o pão.
No alvorecer, redes metodicamente lavadas,
postas são em cofos de palhas.
As canoas presas por correntes
são fixadas em estacas perfuradas no argiloso
lábio esquerdo do rio - sua margem.

Repousando, balançam em águas correntes,
límpidas, momentaneamente pacíficas.
E no repousar, as  canoas vivenciam toda
a trajetória diária do Parnaíba,
testemunhando o destino do rio - o mar.

Ouvem o cantar de suas águas,
cortadas por galhos secos,
sobresoltos na atmosfera,
de árvores centenárias,
sepultadas no fundo de seu leito.
 
Ouvem o barulho dos montões de barreiras
de areias brancas, que  jogam-se em suas águas,
como facadas de natação.
                 
E no profundo, o rolar das britas,
de troncos mortos de mais árvores,
que os lábios feridos do rio assassinaram,
sepultando em seu interior.

Elas recebem visitas de cardumes pequenos,
miúdos, beijantes de seu dorso,
companheiros aquáticos,
amenizadores de sua solidão.
E de um poeta triste e naturalista
que ao chegar aos lábios do rio,
despeja lágrimas suas,
armazenadas na noite ferida.

Sendo-me o tal poeta,
observante das canoas acorrentadas,
que balançam felizes descansando nas águas,
cumprindo o destino de ser e fazer parte do rio,
almejo ser também fixado por correntes e estacas,
às bordas de teus lábios umedecidos e carnudos,
onde calmamente preso e balançante,
os meus lábios serão felizes testemunhas
do destino de tua vida.

Pôr do sol atrás dos Morros Garapenses - Duque Bacelar


Fonte: Adolescência Poética / Na Escuridão e no Dia Claro

RIO PARNAÍBA - 4 poemas de Francisco Carlos Machado

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