Reconhecimento ao Rio Parnaíba
Fostes um benfeitor de minha
terra,
de muitas terras no passado.
Com teu caráter persistente
não desejou tréguas pra o
nordestino
habitante de teus leitos,
sofresse por falta d’água,
deixando de viajar ou de produzir
economia em sua terra.
Rio Parnaíba, grande rio.
És perene benfeitor de minha
terra.
Com o caráter incansável que
tens,
trabalhas ainda para minha terra
receber eletricidade e de tuas
belas águas
lazer e sustentos para se manter.
Muito obrigado, meu bom rio.
Tu és verdadeiro manancial.
As muitas vidas encontram em ti
alimentos para existir.
Rio Parnaíba
À margem esquerda do rio Parnaíba,
onde vivo e desfruto de suas belezas,
tiro as vestes, e nu, todo
despido,
atiro-me as suas límpidas águas
de verão.
E sentindo-me um peixe ao
nadar,
mergulhar em seus leitos,
entrego-me completamente a natureza.
Revolvendo-me nas suas areias
brancas,
sentindo-as rispidamente em
minha pele,
com a brisa amiga que me revela
o quanto à vida é gostosa e
bela,
atiro-me novamente nas suas águas,
mergulho fundo, nado, me lavo,
voltando satisfeito para
casa.
A Prostituição do Parnaíba
Em seu dorso infantil e furor ávido
de progressos, o gaiola Uruçuí,
em corrida espermatozóica,
sangra bruscamente suas águas virgens.
Fecundando-o no Atlântico
senti o clímax dos gozos
das riquezas do século XIX
gerando povoados, vilas e cidades.
Cada transportar de coisas, bichos e bens,
gentes brancas e pretas eram socos de coito
que tornaram o rio meretriz,
conhecido na praça do mercado.
Viciando o Piauí e seu vizinho Maranhão,
vivendo ambos dualismo sexual pornográfico
usufruindo o gozo líquido do Parnaíba,
Anos de cópulas. Posições e gozos variados.
Ao tornar velhas as águas prostituídas do rio,
no encontrar de fontes novas de prazeres e
riquezas,
abandonaram-no ao assoreamento, corpos
estranhos,
poluição e depilação dolosa de suas margens -
As doenças venéreas do rio.
As Canoas do Parnaíba
Pescadores do Parnaíba, madrugada inteira,
com canoas e redes, em corridas silenciosas,
labutam, pescam o pão.
No alvorecer, redes metodicamente lavadas,
postas são em cofos de palhas.
As canoas presas por correntes
são fixadas em estacas perfuradas no argiloso
lábio esquerdo do rio - sua margem.
Repousando, balançam em águas correntes,
límpidas, momentaneamente pacíficas.
E no repousar, as canoas vivenciam toda
a trajetória diária do Parnaíba,
testemunhando o destino do rio - o mar.
Ouvem o cantar de suas águas,
cortadas por galhos secos,
sobresoltos na atmosfera,
de árvores centenárias,
sepultadas no fundo de seu leito.
Ouvem o barulho dos montões de barreiras
de areias brancas, que jogam-se em suas águas,
como facadas de natação.
E no profundo, o rolar das britas,
de troncos mortos de mais árvores,
que os lábios feridos do rio assassinaram,
sepultando em seu interior.
Elas recebem visitas de cardumes pequenos,
miúdos, beijantes de seu dorso,
companheiros aquáticos,
amenizadores de sua solidão.
E de um poeta triste e naturalista
que ao chegar aos lábios do rio,
armazenadas na noite ferida.
Sendo-me o tal poeta,
observante das canoas acorrentadas,
que balançam felizes descansando nas águas,
cumprindo o destino de ser e fazer parte do
rio,
almejo ser também fixado por correntes e
estacas,
às bordas de teus lábios umedecidos e
carnudos,
onde calmamente preso e balançante,
os meus lábios serão felizes testemunhas
Fonte: Adolescência Poética / Na Escuridão e no Dia Claro
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