quarta-feira, 16 de julho de 2014

BILL DE JESUS


                   Na caixa de e-mail pessoal se recebe a notícia enviada por Elizabeth Faria de quer Bill de Jesus, na manhã de  4 de Agosto de 2011, em São Luis, havia falecido aos 53 anos.
                     Professor, teatrólogo, ativista cultural multifacetado e poeta, o buritiense Benedito Ferreira de Jesus, popularmente  Bill de Jesus, dedicou sua vida para as expressões culturais populares e artísticas.
                     Nascido em 26 de Março de 1958, filho de Raimundo Nonato de Jesus e Maria José Ferreira de Jesus. Viveu em sua cidade natal até 1975,  quando parti para  São Luis, objetivando continuar os estudos e realizar os sonhos pessoais.  Na capital cursou o 2º grau no CIPE, concluindo em 1982. Paralelo, em 1981, com vocação para as artes cênicas, faz cursos de Sensibilização Teatral e Dicção, instruído por Aldo Rebelo e Eudózia Acunã, no Grupo Gangorra. Estudou também técnica de Teatro de Bonecos e atuação para Atores. Em São Luis atuou no FETEMA ( Federação de Teatro do Estado do Maranhão) e LOBOART- Grupo de renome na capital - além  do Grumate e o Grupo Pote, idealizado por ele e a atriz Ana Tereza Desterro.
 
                     Em 1985, Bill que há um ano se mudou para a cidade de Arari participa em Brasília do Seminário Brasileiro de Teatro. Em Arari, que adotou como sua, continuou ativamente se  envolvendo nas produções teatrais, ora sendo diretor, ator; ora sendo contra-regra e cenógrafo em grupos como    “ Mistura ” , fundado em 1988, transformado em Companhia em 2003. Seus bonecos gigantes, os   “ Bonecos de Bill ”, tornaram-se atrações culturais e tradicionais nos carnavais de Arari, no qual foi grande animador.  Como professor de artes,  literatura e história em redes publicas e privadas locais,  Bill de Jesus foi um mestre que unia teoria e prática no processo de aprendizado de seus alunos, contextualizando a realidade socioeconômica e cultural dos mesmos. Os educandos eram companheiros de Bill, e juntos movimentava o ambiente cultural das escolas, organizando peças estudantis, recitais poéticos e musicais,  e seminários com temáticas diversas, voltadas sempre para a comunidade arariense, participante fiel dos eventos.
                    Tornando-se enfim, uma das principais lideranças culturais da cidade que adotou, recebeu em 2003 o título de Cidadão Arariense, em reconhecimento aos extensos trabalhos educativos e culturais  realizados. Gestor municipal de cultura da prefeitura desde 2007 conseguiu dentre muitas conquistas, a reativação da Escola Municipal de Música da cidade. Bill pelas peças de teatrais que escrevia e dirigia; pelos poemas publicados em jornais locais, chegou a receber oficialmente convite para ser membro da Academia Arariense- vitoriense de Letras, mas por razões pessoais não aceitou. Historiador, graduado pela Universidade Estadual do Maranhão, pesquisava sobre o tambor de Crioula da Trizidela de Miguel Campelo, visando um artigo de conclusão da pós-graduação.  Como poeta, organizava sua primeira antologia de seus belos poemas,  pretendendo lançar no aniversário de 54 anos.
                        Nos encontros de gestores culturais dos municípios maranhenses, Bill de Jesus sempre me perguntava por Buriti, e o que se fazia pela cultura de sua terra, onde em ultima visita em final de Julho de 2011, colhendo depoimentos de amigos e conhecidos, gravando cenas e lugares de sua infância e adolescência, objetivava organizar um documentário autobiográfico,  pelo qual deixou em andamento, pois na manhã do dia 2 de Agosto de 2011, dirigindo  uma performance teatral numa conferência pública em Arari, Bill passou mal. Foi levado as presas para um hospital local. Não tendo melhoras é enviado para  São Luis, falecendo na manhã do dia 3 de Agosto. Como pedido, depois de ser velado em Arari, cuja  população, amigos e admiradores ficaram profundamente comovidos, seu corpo  mortal retornou a sua cidade Buriti, onde fora sepultado no cemitério São José.  

 

                                                  2 Poemas de Bill        

                                                                             

Ventre Sacrossanto

 
O corpo sacro grita pela salvação

do ventre verde,

de uma terra sem chamas

e ao mesmo tempo fria.

 

Chamas de um inferno sem dono,

Mas, ao mesmo tempo,

de bilhões de lucíferes, fria,

de geleira sombria de amor a Deus.

 
Ó ventre de minha Mãe Sagrada!

Ó mata verde-brilhante!

Ó grande Tupã!

Não deixes cair

em tentação de Anhangá, demônio

de um Capitalismo sem fronteiras.

 
Ó Terra Sagrada!

Teu Corpo Sacrossanto

grita pela salvação do ventre-verde

de uma mata sem plantas, pássaros,

água, ar e jabutis,

cujo ventre gerou também

a paciente preguiça,

que acreditou jamais acabar

a fonte de sua alimentação.

 
Ó Mãe Maria da Paz!

Trazei de volta ao ventre

Os sonhos coloridos de flores,

frutos, peixes, ventos,

mares earco-íris,

 
 
que outrora eram o Paraíso.
 
 
Índio
 
                                     O corpo
                                     nu
                                     Pintado de cores
                                     Geograficamente surtidas
 
                                     Horas de guerras
                                     Horas de alegrias
                                     Horas de reflexão
                                     Se arrastando pelas aldeias
                                     Azedas e féticas
                                     Sem injeção de respeito,
                                     Dignidade, auto- estima.
                                     Sem cidadania! 
                                            
                                     São milhões de perdidos, sofridos e saqueados.
                                      Humilhados!
                                      Sofridos às margens do rio-social amargo.
                                      De uma conjuntura sem dó, sem dor e sem pudor.
                                      Que estraçalha a vida humana
                                      com dinheiro mesquinho de um mundo sem deuses,
                                      De uma elite pobre.
 
                                       Índios homens
                                       Que pátria tu tens?
                                       Que homem tu és?
                                       Que sonhos tiveste?
 
                                       O teu sonho,
                                       A tua cidadania... se foram!!!
                                       Como uma pomba branca
                                       Que até hoje continua branca, nebulosa e cinzenta.
                                       Sem corresponder
                                       ao sonhado sonho da paz!!!
                                       Sim.
                                       Da paz !!!
                                       Simplesmente porque é pomba.
                                       E pássaro não valem nada para eles.
 
                                       E você
                                       Simplesmente porque é índio
                                       Saudosa maloca!!!
           Aldeia querida!!!
                                 


















 
 
 


 

 

 

 

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