Na caixa de e-mail
pessoal se recebe a notícia enviada por Elizabeth Faria de quer Bill de Jesus,
na manhã de 4 de Agosto de 2011, em São
Luis, havia falecido aos 53 anos.
Professor, teatrólogo, ativista cultural multifacetado e
poeta, o buritiense Benedito Ferreira de Jesus, popularmente Bill de Jesus, dedicou sua vida para as
expressões culturais populares e artísticas.
Nascido
em 26 de Março de 1958, filho de Raimundo Nonato de Jesus e Maria José Ferreira
de Jesus. Viveu em sua cidade natal até 1975, quando parti para São Luis, objetivando continuar os estudos e realizar
os sonhos pessoais. Na capital cursou o
2º grau no CIPE, concluindo em 1982. Paralelo, em 1981, com vocação para as
artes cênicas, faz cursos de Sensibilização Teatral e Dicção, instruído por
Aldo Rebelo e Eudózia Acunã, no Grupo Gangorra. Estudou também técnica de
Teatro de Bonecos e atuação para Atores. Em São Luis atuou no FETEMA (
Federação de Teatro do Estado do Maranhão) e LOBOART- Grupo de renome na
capital - além do Grumate e o Grupo
Pote, idealizado por ele e a atriz Ana Tereza Desterro.
Em
1985, Bill que há um ano se mudou para a cidade de Arari participa em Brasília
do Seminário Brasileiro de Teatro. Em Arari, que adotou como sua, continuou ativamente
se envolvendo nas produções teatrais, ora
sendo diretor, ator; ora sendo contra-regra e cenógrafo em grupos como “ Mistura ” , fundado em 1988,
transformado em Companhia em 2003. Seus bonecos gigantes, os “ Bonecos de Bill ”, tornaram-se
atrações culturais e tradicionais nos carnavais de Arari, no qual foi grande
animador. Como professor de artes, literatura e história em redes publicas e
privadas locais, Bill de Jesus foi um
mestre que unia teoria e prática no processo de aprendizado de seus alunos,
contextualizando a realidade socioeconômica e cultural dos mesmos. Os educandos
eram companheiros de Bill, e juntos movimentava o ambiente cultural das escolas,
organizando peças estudantis, recitais poéticos e musicais, e seminários com temáticas diversas, voltadas
sempre para a comunidade arariense, participante fiel dos eventos.
Tornando-se enfim, uma das principais
lideranças culturais da cidade que adotou, recebeu em 2003 o título de Cidadão
Arariense, em reconhecimento aos extensos trabalhos educativos e culturais realizados. Gestor municipal de cultura da
prefeitura desde 2007 conseguiu dentre muitas conquistas, a reativação da
Escola Municipal de Música da cidade. Bill pelas peças de teatrais que escrevia
e dirigia; pelos poemas publicados em jornais locais, chegou a receber
oficialmente convite para ser membro da Academia Arariense- vitoriense de
Letras, mas por razões pessoais não aceitou. Historiador, graduado pela
Universidade Estadual do Maranhão, pesquisava sobre o tambor de Crioula da
Trizidela de Miguel Campelo, visando um artigo de conclusão da pós-graduação. Como poeta, organizava sua primeira antologia
de seus belos poemas, pretendendo lançar
no aniversário de 54 anos.
Nos encontros de gestores culturais dos municípios maranhenses, Bill de
Jesus sempre me perguntava por Buriti, e o que se fazia pela cultura de sua
terra, onde em ultima visita em final de Julho de 2011, colhendo depoimentos de
amigos e conhecidos, gravando cenas e lugares de sua infância e adolescência,
objetivava organizar um documentário autobiográfico, pelo qual deixou em andamento, pois na manhã
do dia 2 de Agosto de 2011, dirigindo
uma performance teatral numa conferência pública em Arari, Bill passou
mal. Foi levado as presas para um hospital local. Não tendo melhoras é enviado
para São Luis, falecendo na manhã do dia
3 de Agosto. Como pedido, depois de ser velado em Arari, cuja população, amigos e admiradores ficaram profundamente
comovidos, seu corpo mortal retornou a
sua cidade Buriti, onde fora sepultado no cemitério São José.
2 Poemas de Bill
Ventre
Sacrossanto
O corpo sacro grita pela salvação
do ventre verde,
de uma terra sem chamas
e ao mesmo tempo fria.
Chamas de um inferno sem dono,
Mas, ao mesmo tempo,
de bilhões de lucíferes, fria,
de geleira sombria de amor a Deus.
Ó ventre de minha Mãe Sagrada!
Ó mata verde-brilhante!
Ó grande Tupã!
Não deixes cair
em tentação de Anhangá, demônio
de um Capitalismo sem fronteiras.
Ó Terra Sagrada!
Teu Corpo Sacrossanto
grita pela salvação do ventre-verde
de uma mata sem plantas, pássaros,
água, ar e jabutis,
cujo ventre gerou também
a paciente preguiça,
que acreditou jamais acabar
a fonte de sua alimentação.
Ó Mãe Maria da Paz!
Trazei de volta ao ventre
Os sonhos coloridos de flores,
frutos, peixes, ventos,
mares earco-íris,
que outrora eram o Paraíso.
Índio
O corpo
nu
Pintado de
cores
Geograficamente surtidas
Horas de
guerras
Horas de
alegrias
Horas de
reflexão
Se
arrastando pelas aldeias
Azedas e
féticas
Sem injeção
de respeito,
Dignidade,
auto- estima.
Sem
cidadania!
São milhões de perdidos, sofridos e
saqueados.
Humilhados!
Sofridos
às margens do rio-social amargo.
De uma
conjuntura sem dó, sem dor e sem pudor.
Que estraçalha a vida humana
com
dinheiro mesquinho de um mundo sem deuses,
De uma elite pobre.
Índios
homens
Que
pátria tu tens?
Que
homem tu és?
Que
sonhos tiveste?
O teu
sonho,
A tua
cidadania... se foram!!!
Como uma
pomba branca
Que até
hoje continua branca, nebulosa e cinzenta.
Sem corresponder
ao
sonhado sonho da paz!!!
Sim.
Da paz
!!!
Simplesmente porque é
pomba.
E
pássaro não valem nada para eles.
E você
Simplesmente porque é índio
Saudosa maloca!!!
Aldeia
querida!!!