segunda-feira, 24 de agosto de 2020

BREVE RECORDAÇÕES DO ESCRITOR SÁLVIO DINO


Sálvio Dino (*1932 +2020)


           O escritor Agostinho  Noleto em  conversas travadas na Biblioteca da Academia  Imperatriense de Letras /AIL  me recomendava sempre ir  aonde   Sálvio Dino para  trocamos informações referente a Serra da Desordem - magnífico monumento natural de 18 km de extensão, sendo também um sítio histórico no sul do Maranhão -  onde dentre vários ocorridos houve em seu topo uma batalha sangrenta em 1813 , envolvendo os Krikati e outros timbira com o exército imperial, episórdio esse descrito  no clássico O Sertão.  Sendo Sálvio Dino  estudioso de Parsondas de Carvalho, defensor até de quem realmente foi o autor  da obra citada  fora  o irmão, não  a irmã Carlota, lhe levando  assim a ser   estudioso natural também da Serra da Desordem e seus enigmas. Logo, possuindo alguns documentos do ocorrido bélico, no qual  busco, razão esta de Agostinho Noleto pedir para consultá-lo.

Então, somente dois anos depois de  Noleto ter me pedido para ir falar com Sálvio, estando em Imperatriz no começo de 2019, me desloquei na manhã de 4 de Janeiro  até João Lisboa para  travar contato e a buscar  parceria intelectual com Sálvio, falando-lhe da minha dissertação entre os Krikati e do Projeto Serra da Desordem.  

Muito bem recebido pelo escritor, historiador, político e intelectual Sálvio Dino, contei tudo que sabia sobre a Serra; as explorações feitas e das descobertas inéditas em campo entre os índios, causando   boa impressão em Dino, segundo suas próprias palavras, devido ter a  coragem e desprendimento em pesquisar o tema na própria Serra. Gentil e afável, conversamos um bom tempo temas afins e o mesmo lamentou que tivesse um compromisso agendado em Imperatriz, mas me disse que não poderia mais estando na região  deixar de conversamos, pois o próprio tinha grandes interesses em meu trabalho sobre a Serra, como  muito gostava de diálogos com pessoas que faziam essas pesquisas de campo.  Voltemos juntos em sua caminhonete para Imperatriz, ficando eu no campus da UFMA na cidade.

Como Sálvio Dino tinha dificuldades de leitura em letras miúdas do celular – a idade havia lhe tirado muito da visão - pediu que lhe enviasse recados para seu gentil motorista Nonato.  No qual fiz  algumas vezes.  Um mês depois, fevereiro de 2019, Dino convidado para proferir uma magnífica palestra na Assembleia Legislativa do Maranhão sobre os "184 anos do Poder  Legislativo e a importância histórica das obras raras encontradas no Parlamento", fui prestigia-lo. Depois na confraternização que ocorreu, nós falemos um pouco.

Voltei a Imperatriz em Novembro de 2019 e não pode visitar Sálvio. No corrente ano, devido à pandemia, quando nos preparavamos para voltar ao povo Krikati, fomos impedidos de ir ao território indígena (o COVID 19 então se alastrando,  sendo eu branco,   poderia  ser vetor de contaminação na comunidade indígena), o  tal vírus começava mudar  meus planos, como a normalidade de todos nós.

 Começo de Julho desde ano Nonato, o motorista de Sálvio me enviou uma mensagem de uatizap que  Dino perguntava por mim, querendo voltar às conversas, pois muito tinha gostado de nossas falas. Respondi que a recíproca era a mesma, mas devido à pandemia, estava impedido de ir à região. Pouco depois soube que Sálvio Dino sofre um AVC (me solidarizei através de Nonato), recebendo informação de melhoras do escritor, alegrando-me por isso.


Na manhã desta segunda,  24 de Agosto, a triste notícia da partida de Sálvio Dino,  em consequência da COVID 19, me deixou com  um  sentimento de  perda. Dos escritores da região tocantina que havíamos planejado  trabalhar  pesquisas em conjunto, Adalberto Franklin e ele,   partiram sem concretizarmos os intentos intelectuais - o que é lamentavel - sei que teríamos  usufruido momentos e falas magníficas, tornando minha vida rica de relações pessoais significativas. Ambos eram bons escritores e pesquisadores de primeira grandeza da historiografia sul maranhense - encantadora e riquíssima, no qual  estou conhecendo e enveredando em algumas de suas temáticas.

Assim triste, concluo desejando:

Descanse em paz confrade Sálvio Dino. Com louvor cumpriste sua missão  terrena.

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