segunda-feira, 25 de junho de 2012

UM TESTEMUNHO EM DEFESA DE NOSSA NATUREZA *

                                                                         Quando chegamos a  Duque Bacelar,
                                                                                   os  Morros nos recebem com palmas pelo ar ”**  
  
               
                                                                        Quando criança, nas filas cívicas da Escola Paulo Ramos, ao cantar nosso hino municipal, os versos que falam dos Morros, sempre me tocaram. Em pé, em forma na fila, imaginava a beleza das palmeiras batendo palmas ao receber um visitante ou o filho da terra que voltava. No mesmo período, nesses saudosos tempos infantis, fora dos muros do Pulo Ramos, vivia nas trilha dos morros à procura de chichas, jataís, tucuns, jatobás, mutas e de todos os demais frutinhos silvestres que se encontravam. Meus amigos e eu caçamos passarinhos, e em toda temporada de caça da meninice, consegui matar somente um,  o que me fez no correr do tempo pensar dolorosamente em meu maldoso ato. Os passeios mais longos  nos levavam às margens das lagoas e igarapés, onde podíamos ver e ouvir o canto dos socós, das garças, jaças-anãs, juritis,  nambus e demais aves que formam nossa fauna alada. Conheci por nome, as vezes vendo bem perto os animais maiores, os peixes, e aprendi nadar nas águas do igarapé e do açude. Cresci como menino de interior em constante contato com o Meio Ambiente.       
                Ao sair do Paulo Ramos, alfabetizado e apaixonado por livros, devorava todos os que falavam dos animais, pássaros e plantas. Já começando pensar no mundo e na realidade, vi que a em todo o planeta a natureza era covardemente destruída. E em Duque não era diferente. Sendo prático, organizei logo um revistinha e um grupo: “Amigos da Natureza”. O ano era 1992. O Brasil sediava no Rio de Janeiro o famoso Encontro Mundial Eco 92. Entendi tudo pela televisão. Então adolescente, desejava ser biólogo. Neste período minhas caminhadas e explorações pelos morros, rios, lagoas e igarapés, agora eram totalmente solitárias e científicas. Passava horas dentro do mato coletando folhas, frutos e mudas de plantas para estudar e cultivar. Coletava búzios, conchas e pedras ornamentais encontradas, fazendo um levantamento dos animais viventes em nossos ecossistemas. Passei também a repugnar os carros de madeira e o Grupo João Santos.
                  Um dia eu tive que deixar todas essas vivências e ir embora da minha terra para estudar na capital. E longe, com a dor da saudade latejando no peito, escrevi para minha mãe: “Sinto falta de caminhar descalço pelos morros; sinto falta dos banhos no rio; sinto falta de ar puro”. Não resistindo mais a saudade, voltei. Aconteceu, após minha volta, algo extraordinário comigo: a explosão da poesia em minha alma. ECLODIA  um poeta, nascendo em harmonia e irmandade com todo o meio ambiente. Assim, passei  amar, admirar e sentir a natureza de maneira mais intensa. Agora, o barulho do vento nos galhos das árvores; o nascer do sol às margens do rio Parnaíba; o formato bonito e verde dos morros e o cantar dos passarinhos tinham um sentir e gostosura demasiadamente especial. Passava horas e horas “ namorando ” com os olhos toda a beleza existente e vista de cima dos morros, no contemplar de cada detalhe. O famoso poema “O Sentido da Vida ”, é gerado deste relacionamento.                                                             
                     A partir dessa experiência, uma revelação pessoal de 1995, que comecei a sonhar pela “ reserva e proteção total dos morros garapenses ”. O espaço verde da comunidade protegido, respeitado e guardado pelo homem. Um lugar em que as pessoas da cidade, principalmente as crianças, pudessem se envolver com o ambiente natural de maneira amigável e harmoniosa, com respeito, como Deus, o Criador de toda vida, espera de nós.
                       Os morros, o rio Parnaíba, as lagoas, o açude e o igarapé são bens de todos, não podendo ser mais usados de forma destruidora e egoísta. Não devem ser mais devastados, poluídos e queimados barbaramente. Destruir por queimadas os morros é tornar em cinzas partes da minha história; acabando com as boas lembranças de criança da minha geração e de outras que poderão se formar nos contatos com essa natureza, amando esta terra e esta paisagem. É renegar a todos nós um meio ambiente saudável, preservado. Portanto, essas queimadas definitivamente devem findar nos morros. Existem muitos lugares para se fazer esta atrasada cultura de roça de toco e fogo.
                          Assim, todos devem sonhar e buscar a reserva para bem de nossas vidas. O mundo está buscando viver sustentabilidade e a ecologia preservada. E nós fazemos parte do mundo. Somos inteligentes, racionais, pessoas de bem. Se não fizermos isso  tornarem0-nos desumanos, inimigos das obras do Criador e dos seres viventes que dependem de nós. Se não preservamos nossa natureza, dentre as muitas conseqüências negativas, culturalmente, em breve, teremos que riscar os versos do hino da cidade, pois ao chegarmos a Duque Bacelar, os Morros não mais nos encontrão com palmas pelo ar; nem as palmeiras jogarão no chão os coquinhos para as mulheres quebrar, e o poeta que filosofa em cima do monte no “ O Sentido da Vida”, não encontrará mais vida ao derredor dele, pois toda vida existente foi devastada e morta pelo fogo e o interesse egoísta de homens sem amor e respeito a nossa natureza.

                                                                                          Francisco Carlos  Machado